Mulheres na pintura
brasileira
![]() Djanira Tiradentes |
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Em Portugal, no Século 17, por exemplo, vamos encontrar Josefa de Óbidos, ou Josefa de Ayala (1634?-1684). Esta artista nasceu em Sevilha (Espanha), filha do pintor português Baltazar Gomes Figueira, com quem aprendeu os segredos da arte.Sua mãe era D. Catarina de Ayalla y Cabrera, irmã do pintor sevilhano Barnabé de Ayalla. Bem cedo, sua família mudou-se para Óbidos (Portugal), onde Josefa passou a maior parte de sua vida, sendo, pois, mais conhecida como Josefa de Óbidos.Curioso é que, havendo sido aceita como pintora na sociedade fechada de sua época, Josefa veio a sofrer restrições feitas por críticos dos Séculos 19 e 20, que consideravam sua pintura bem inferior à dos seus contemporâneos.Exceções à parte, a verdade é que, até o final do Século 19, torna-se difícil encontrar mulheres que tenham se aventurado em um território em que não eram bem vistas e do qual a própria família procurava mantê-las afastadas.
![]() Josefa de Óbidos Casamento místico de Santa Catarina |
Não que, à mulher, a pintura fosse proibida. Se oportunidade surgisse, seu aprendizado até recebia incentivos, mas restrito ao ambiente familiar, fazendo parte das prendas domésticas, juntamente com o bordado e as aulas de piano. Expor seus trabalhos, conquistar mercado e galgar a fama, nem pensar nisso.Em 1816, a Missão Francesa veio ao Brasil para implantar uma Academia de Belas-Artes. Problemas políticos, sobretudo a desconfiança política em relação aos franceses, retardaram o projeto por dez anos e somente em 5 de novembro de 1826 é que instalou-se oficialmente a Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, hoje conhecida como Escola Nacional de Belas-Artes.Nesse lapso de 10 anos, as aulas se davam em caráter informal, não havendo entretanto registros de que alguma mulher tenha participado delas. Como também não se tem registro, nos anos seguintes, de mulheres que tenham estudado na Academia e, muito menos, que tenham exposto obras nos Salões de fim de ano.A Arte, para a mulher, continuava restrita ao lar.
![]() Ana Vasco Lagoa Rodrigo de Freitas |
A abertura dos Salões anuais, na Academia, era uma grande festa, com a presença do Imperador, dos professores, alunos, críticos de arte e convidados. Depois de um longo discurso do diretor, passava-se à entrega dos prêmios, seguindo os critérios bastante conservadores da comissão julgadora, com registro em ata.Pois é na leitura dessas atas que vamos encontrar a presença feminina se insinuando, a partir dos anos 70. Em 1876, Francisca Breves ganha a 2ª Medalha de Ouro e Elvira Airosa fica com Menção Honrosa.Em 1884, a medalha de ouro é entregue a Abigail de Andrade; Guilhermina Tolistadius e Julieta Adelaide dos Santos recebem menção honrosa. Sem qualquer título, são citadas também, de passagem, as pintoras Rosa Merys, Maria Teixeira de Farias e a baronesa de Araújo Gondin.
![]() Georgina de Albuquerque No Cafezal |
A partir de 1894, a presença de mulheres nas premiações passa a ser uma constante, quase sempre com simples menção honrosa de 1º e 2º graus.
Existem, porém, exceções. Em 1900, por exemplo, Julieta França ganha o cobiçado prêmio de viagem ao exterior e torna-se pensionista da República. Em 1905, Ana Vasco e Maria Vasco, alunas de Benno Treidel e participantes de seguidas exposições, ganham a medalha de prata. O mesmo acontece com Georgina de Albuquerque em 1912 e 1916. Maria Pardos e Sílvia Meyer também conquistam esse prêmio em 1915.No mais, outros nomes vem citados, mas tão somente com menções honrosas, nível em que nomes de mulheres chegam a competir, em número, com concorrentes masculinos.
![]() Anita Malfatti A ventania |
A partir de 1917, um incidente viria mudar tudo. Ninguém, nem o mais experiente profissional do mundo das artes, poderia prever os acontecimentos desse ano, envolvendo de um lado a pintora Anita Malfatti e, de outro, o escritor Monteiro Lobato.Anita trazia consigo uma vasta bagagem cultural. Filha de pintora, recebeu da mãe os primeiros ensinamentos sobre a arte.
Em 1910, foi para a Alemanha, onde estudou na Academia Real e, posteriormente, teve contato com o Expressionismo e tomou aulas com os mestres revolucionários de então. Em 1915, foi aos Estados Unidos, onde adquiriu plena liberdade de se expressar com tintas e pincéis.De volta ao Brasil, incentivada pelo crítico Nestor Rangel Pestana e instigada por Di Cavalcanti, inaugurou sua exposição de um único dia no Mappin Stores, onde vendeu alguns quadros e ficou conhecendo seu amigo de toda a vida, o escritor Mário de Andrade.Quando tudo parecia caminhar bem, eis que explode o artigo de Monteiro Lobato, publicado noO Estado de S. Paulo, com o título: Paranóia ou Mistificação?A carga pesada de Lobato contra os modernistas, centrada exclusivamente em Anita – o alvo mais próximo naquele momento – minou a confiança da pintora em seu trabalho, deixando seqüelas irremediáveis, como sintetizou Mário de Andrade: "Ela fraquejou, sua mão indecisa se perdeu."Anita sofreu o desgaste, mas a exposição de 1917 foi o elemento de coesão de todos os modernistas, resultando na Semana de Arte Moderna em 1922, da qual participaram Anita, com 12 obras e a pintora Zina Aita, com 8 quadros.
![]() Zina Aita A sombra (Homens trabalhando) |
A arte moderna livrava-se das limitações impostas pela crítica conservadora; a mulher passava a ter presença atuante na pintura e, com os ventos do Modernismo, surgia um dos grandes fenômenos de todos os tempos da pintura brasileira: Tarsila do Amaral, que não participou daSemana por achar-se fora do Brasil.O espaço estava conquistado, as barreiras foram se rompendo e a pintura, acadêmica ou moderna, passou a ser uma atividade de dois gêneros.Acabaram-se as limitações quanto ao sexo e permanecem tão somente as limitações do mercado, comuns a homens e mulheres, e que somente serão superadas na medida em que se tornem fortes os mercados regionais, não suficientemente explorados, seja por falta de apoio oficial, seja porque as atenções de todos se voltam, erroneamente, só para o eixo Rio-São Paulo.
![]() Tarsila do Amaral Academia |
Era uma vez no cinema (e ainda é)
Nas telas – mais até que nas ruas das grandes cidades, no cotidiano –, as transformações femininas das últimas quatro décadas ganharam sua real dimensão
"Existem dois tipos de mulheres, as lunares e as solares", diz Paulo, vivido por Paulo José, quase no final de Todas as Mulheres do Mundo. "Maria Alice era uma mulher solar." A professorinha vivida por Leila Diniz (1945-1972), ensolarada, virou ícone da liberdade feminina no fim dos anos 1960. O filme, autobiografia mal disfarçada da conturbada relação do diretor com a atriz, é o mais bem-acabado retrato da juventude do Rio na infância da revolução sexual. O casamento clássico, pouco antes de subirem os letreiros, foi um toque de realidade em um Brasil que, afinal, não havia mudado tanto assim.
O cinema sempre foi o mais adequado palco das mudanças de nosso tempo. Por meio dele, sabemos quem e o que está na moda – que cores fazem sucesso, que canções estão nas paradas, para onde vai o humor da sociedade. Nas telas, assistimos ao crescimento de importância das mulheres em um mundo predominantemente masculino.
A convite de VEJA, o fotógrafo Jairo Goldflus reconstruiu cenas marcantes de quatro filmes que foram produzidos ou lançados no Brasil em 1967, quando a revista REALIDADE, que inspira esta edição, foi tirada de circulação. Todas as Mulheres do Mundo, A Primeira Noite de um Homem eA Bela da Tarde, cada um a seu feitio, são registros das reviravoltas femininas (e também masculinas, é natural) na virada dos anos 1960 para os 1970. A releitura dos filmes pode ser vista como um ensaio de moda do século XXI – mas também como uma delicada inspiração para entender quatro décadas de história.
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Carlos Penfiel
TODAS AS MULHERES DO MUNDODiretor: Domingos de Oliveira"Existem dois tipos de mulheres, as lunares e as solares", diz Paulo, vivido por Paulo José, quase no final de Todas as Mulheres do Mundo. "Maria Alice era uma mulher solar." A professorinha vivida por Leila Diniz (1945-1972), ensolarada, virou ícone da liberdade feminina no fim dos anos 1960. O filme, autobiografia mal disfarçada da conturbada relação do diretor com a atriz, é o mais bem-acabado retrato da juventude do Rio na infância da revolução sexual. O casamento clássico, pouco antes de subirem os letreiros, foi um toque de realidade em um Brasil que, afinal, não havia mudado tanto assim.
Jairo Goldflus
AS NOIVAS DE HOJE, COMO ONTEMVéu, grinalda e buquê de rosas vermelhas. As mulheres brasileiras ainda gostam de se casar dessa maneira. E consideram o rito da igreja atualíssimo.34,8% foi o porcentual de crescimento dos casamentos de pessoas maiores de 15 anos de 1998 a 20087,4% dos casamentos são de homens divorciados que trocaram alianças com solteiras4,1% dos casamentos são de mulheres divorciadas que se uniram a solteirosFonte: IBGE/Pnad
Corbis/Latinstock
A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEMDiretor: Mike NicholsAs imensas pernas de Anne Bancroft (a senhora Robinson), sensualmente expostas ao olhar assustado de Dustin Hoffman(Benjamin Braddock), compõem uma das cenas mais conhecidas do cinema. A iniciação sexual dos jovens, tema central do filme, era assunto tabu no fim da década de 60. Hoffman tinha 30 anos – nas telas, fez um personagem de 21 ao som da magnífica trilha sonora de Simon & Garfunkel.
Jairo Goldflus
INICIAÇÃO SEXUAL PRECOCEO sexo desponta cada vez mais cedo no Brasil, especialmente nas camadas de menor poder aquisitivo.32,6% das mulheres em 2006 disseram ter tido a primeira relação até os 15 anos; em 1996 foram apenas 11%. Entre os homens, a idade da iniciação é 14 anos44,8% é o porcentual de jovens meninas entre 15 e 19 anos que se declararam virgens em 2006; em 1996 a taxa era de 67,2%21 anos é a idade média no nascimento do primeiro filho (dados de 2006); em 1996 era de 22,4 anosFonte: IBGE/Pnad
London Features
A BELA DA TARDEDiretor: Luis Buñuel
Séverine (Catherine Deneuve, no auge da beleza) é uma mulher do lar casada com um cirurgião bem-sucedido. Vive um casamento aparentemente tranquilo, mas é profundamente infeliz. Às tardes busca consolo num bordel. A vida dupla é o retrato do desconforto feminino em tempo de severas mudanças. A personagem de Deneuve foi comparada à de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, lançado 110 anos antes.
Ambas provocaram polêmica.
Jairo Goldflus
A FELICIDADE QUE NÃO SE SUSTENTAAs conquistas dos últimos quarenta anos deram às mulheres um status que nunca tinham alcançado – apesar das desvantagens profissionais ainda evidentes em relação aos homens. A pesquisa Ibope Inteligência/VEJA revela a felicidade feminina, mas um segundo olhar é suficiente para mostrar que a realidade é outra.Você se considera feliz?Sim 95% Não 5%Falta alguma coisa para a plena felicidade?Sim 58% Não 42%O que falta?Casa própria 18%Emprego 10%Concluir a faculdade 9%Ter filhos 7%Viajar 6%
Nas telas – mais até que nas ruas das grandes cidades, no cotidiano –, as transformações femininas das últimas quatro décadas ganharam sua real dimensão
"Existem dois tipos de mulheres, as lunares e as solares", diz Paulo, vivido por Paulo José, quase no final de Todas as Mulheres do Mundo. "Maria Alice era uma mulher solar." A professorinha vivida por Leila Diniz (1945-1972), ensolarada, virou ícone da liberdade feminina no fim dos anos 1960. O filme, autobiografia mal disfarçada da conturbada relação do diretor com a atriz, é o mais bem-acabado retrato da juventude do Rio na infância da revolução sexual. O casamento clássico, pouco antes de subirem os letreiros, foi um toque de realidade em um Brasil que, afinal, não havia mudado tanto assim.
Carlos Penfiel
TODAS AS MULHERES DO MUNDO Diretor: Domingos de Oliveira "Existem dois tipos de mulheres, as lunares e as solares", diz Paulo, vivido por Paulo José, quase no final de Todas as Mulheres do Mundo. "Maria Alice era uma mulher solar." A professorinha vivida por Leila Diniz (1945-1972), ensolarada, virou ícone da liberdade feminina no fim dos anos 1960. O filme, autobiografia mal disfarçada da conturbada relação do diretor com a atriz, é o mais bem-acabado retrato da juventude do Rio na infância da revolução sexual. O casamento clássico, pouco antes de subirem os letreiros, foi um toque de realidade em um Brasil que, afinal, não havia mudado tanto assim. |
Jairo Goldflus
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Taís Araújo, a nº 1 na teledramaturgia
Taís Bianca Gama de Araújo, carioca, nascida em 25 de novembro de 1978, é uma jovem atriz brasileira premiada no cinema e na televisão. Conta com 10 telenovelas, 7 filmes, 1 minissérie e pelo menos 3 peças de teatro em seu currículo, além de atuações em séries e programas televisivos.
Taís foi a primeira atriz negra a ser protagonista de uma telenovela brasileira, interpretando Xica da Silva, na extinta Rede Manchete. Era o ano de 1996 e a atriz tinha apenas 17 anos, tornou-se conhecida internacionalmente e foi eleito um dos 50 rostos mais lindos do mundo pela revista People espanhola.
Em 2004, no papel de Preta de Souza, foi também a primeira protagonista negra de uma telenovela da Rede Globo do horário das 7 da noite, em “Da Cor do Pecado”, de João Emanuel Carneiro.
Em 2009, com a estréia da novela “Viver a Vida”, Taís Araújo quebra mais um tabu: terá seu nome gravado na história da teledramaturgia nacional como a primeira negra a protagonizar uma novela das oito. E, de quebra, levará, ainda, o título de “primeira Helena negra de Manoel Carlos”. A célebre personagem, mulher forte e contraditória, invariavelmente chamada de Helena, é marca registrada nas tramas do autor e já foi vivida por estrelas como Lilian Lemmertz, Maitê Proença, Vera Fischer, Christiane Torloni e Regina Duarte.
Na carreira de Taís Araújo, também, sobram prêmios:
Ano | Categoria | Festival | Trabalho |
1997 | Atriz Revelação | Troféu Imprensa | |
1999 | Melhor Atriz | Festival de Cinema Brasileiro de Miami | Caminho dos Sonhos |
2004 | Melhor Atriz | Festival de Cinema Brasileiro de Miami | Garrincha - Estrela Solitária |
2004 | Melhor Atriz Coadjuvante | Kikito de Ouro | Filhas do Vento |
2005 | Melhor Par Romântico | ||
2006 | Melhor Atriz |
Fontes: Pesquisa: Oscar Henrique Cardoso, ACS/FCP/MinC e Wikipedia
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O famoso “padrão” de beleza é um tema muito conhecido e freqüentemente discutido nos dias atuais. Porque a maioria das pessoas ainda defendem a idéia de que todos deveriam ser iguais, - ou pelo menos muito parecidos – e que tendo um molde pra ser seguido, tudo fica mais fácil. Mas assim como existem aqueles que julgam “belo” apenas o magro, que julgam saudável apenas o esbelto, e que julgam digno apenas o delgado. Existem também aqueles que enxergam a verdadeira beleza, que viam beleza nas mulheres gordas. E aqueles que muito antes de toda essa obsessão pelo corpo “perfeito” já admiravam os corpos volumosos e rechonchudos. E que fizeram questão de eternizar mulheres reais em suas obras.
Um dos mais conhecidos é provavelmente o pintor e escultor colombiano Fernando Botero. Que ficou mundialmente famoso e conhecido como “O pintor de mulheres gordas “. Botero sempre detestou este tipo de denominação, e sempre tentava justificar as suas obras como não sendo “literais”. Já que ele, antes de tudo, era um pintor figurativo.
Algumas obras de Botero:
A mulher e o olhar de Tarsila do Amaral
A Negra

A figura sentada, de braços cruzados e pernas grossas e toscas,tem uma aparência imóvel, como de uma imagem estática que a memória traz de volta do passado. O olhar triste parece invocar a tristeza, a melancolia e o pessimismo; fatores dos quais muitos negros vieram a morrer. Na época recebia o nome de Banzo; hoje é a conhecida “depressão”.
Em A Negra temos elementos cubistas no fundo da tela e ela também é considerada antecessora da Antropofagia na pintura de Tarsila. Essa negra de seios grandes, fez parte da infância de Tarsila, pois seu pai era um grande fazendeiro, e as negras, geralmente filhas de escravos, eram as amas-secas, espécies de babás que cuidavam das crianças.
A pintura em si denuncia a condição dos negros na sociedade da época, o enorme seio sugere ser a mulher "ama-de-leite",que muitas vezes tinha o próprio filho vendido para que pudesse amamentar o filho e/ou filha de seu dono ;as pernas cruzadas sugere a mulher se protegendo,fechada ao sexo,visto que as "mucamas"muitas vezes tinham de "servir" aos seus "donos".
Mulheres/invisíveis
Os homens predominaram no modernismo literário brasileiro, mas na pintura modernista se destacaram Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Elas teriam sido, por isso, heroínas solitárias? Confiando na hipótese de que Anita e Tarsila não se transformariam nos principais nomes das artes plásticas sem uma tradição anterior de mulheres artistas, a professora Ana Paula Cavalcanti Simioni http://wm.imguol.com/v1/blank.gifapresentou em agosto a tese de doutoramento Profissão Artista: pintoras e escultoras brasileiras entre 1884 e 1922, junto ao Departamento de Sociologia da USP. “Percorrendo os dicionários sobre artistas plásticos, tendo como ponto de partida a implantação da Imperial Academia de Belas Artes, em 1826, e como ponto final o ano simbolicamente sugestivo de 1922, cheguei a 91 nomes femininos. Mas, consultando fontes da época, em especial os catálogos das Exposições Gerais de Belas Artes, obtive a surpreendente marca de 212 expositoras no período, a maior parte delas até hoje desconhecida”, informa a socióloga.
Falando na Unicamp sobre essas “mulheres invisíveis” esquecidas na história da arte, a convite do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu, Ana Simioni ressaltou que no século 19 vingava o preconceito de que homens e mulheres eram seres biologicamente e intelectualmente diferentes. Os homens seriam providos de criatividade, capazes de grandes invenções, enquanto que as mulheres, embora mais sensíveis e detalhistas, possuíam faculdades apenas imitativas, sem a criatividade do “gênio”. “Esse tipo de pensamento se refletia nos julgamentos dos críticos de arte que tendiam a classificar a produção feminina mediante o rótulo de ‘amadoras’, rótulo perigoso na medida em que as colocava em uma situação de inferioridade com relação às obras feitas por artistas masculinos”, afirma a pesquisadora.
O segundo obstáculo enfrentado pelas artistas foi o da inacessibilidade à formação. Citando a autora feminista Linda Nochlin, a professora lembra que as principais academias de arte foram vetadas às mulheres ao longo dos séculos, o que contribuiu para a inexistência de “mulheres de gênio”. “Na base deste cerceamento institucional estava o estudo a partir do modelo vivo, considerado indecente para o sexo frágil. É uma questão importante, pois o conhecimento das regras anatômicas era essencial para retratar os heróis nas pinturas de história, o gênero mais nobre da hierarquia acadêmica”, acrescenta Ana Simioni. Depois da pintura de história, vinham o retrato, a paisagem, a natureza morta e as flores. Impedidas de buscar “a grande arte”, as mulheres tinham sua atuação limitada à “arte aplicada” das almofadas, rendas, bordados, flores artificiais.
Academias – Mesmo em Paris, capital artística da Europa, as mulheres só puderam ingressar na École des Beaux-Arts, a mais afamada academia internacional, a partir de 1897. Até então, as moças de elite recorriam a ateliês privados, que ofereciam aulas até com modelos vivos, desde que pagassem o dobro do que era cobrado dos homens. Foi assim que a Academie Julian, onde os mestres eram os mesmos da EBA, atraiu homens e mulheres de todo o mundo. No Brasil, até os tempos de República, a Academia Nacional não recebeu matrículas femininas. Em 1892, promulgou-se decreto facultando “a matrícula aos indivíduos do sexo feminino, para os quais haverá nas aulas lugar separado”. Mas até 1895 – quando 17 mulheres integravam uma turma de 84 alunos – a Academia não possuía ainda um ateliê exclusivamente feminino, como mandava a lei. “A mistura com os homens talvez explique porque as alunas não se inscreviam em disciplinas mais ousadas, como as classes de pintura e escultura, e mais particularmente as aulas de modelo vivo”, deduz Ana Simioni.
Articulação Mulher & Mídia
Quem somos?
A luta das mulheres por outra imagem nos meios de comunicação é histórica. Mas, em 2007, um importante passo foi dado para organizar o movimento feminista em busca de resultados mais concretos. Em meio à preparação do 8 de Março, por iniciativa do Observatório da Mulher, entidades realizaram um abaixo-assinado em protesto à imagem estereotipada da mulher na programação da TV brasileira. Com o objetivo de abrir um canal de diálogo com as emissoras de televisão, o documento foi encaminhado ao Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, solicitando um direito de resposta coletivo ao movimento. No dia 23 de abril, uma concorrida audiência pública no MPF colocou as mulheres frente à frente às emissoras.
Deste debate, surgiu uma rodada de visitas aos canais de TV, para que o movimento tivesse a oportunidade de dialogar com representantes dos departamentos de programação e conteúdo das emissoras. Com boa receptividade por parte desses profissionais, na maioria das emissoras, esse movimento de pouco adiantou. Em 14 de junho, na audiência de resposta no MPF, organizadas em torno de suas entidades representativas (ABRA e Abert), as emissoras revelaram grande arrogância e receio de abrir algum precedente jurídico; recusaram-se a modificar o conteúdo de sua programação de forma a garantir, na tela, uma representação mais democrática da diversidade das mulheres.
Deste processo surge a Articulação Mulher & Mídia, uma frente de várias entidades feministas e de mulheres, que concordam com a urgência desta luta. Com a realização de um seminário ampliado na CUT, no mês de maio, em São Paulo , e diversas conferências, palestras e debates que se seguiram, as entidades abaixo passaram a atuar juntas pelo controle social da imagem da mulher na mídia. Incluímos o tema na pauta dos 16 Dias de Ativismo Contra a Violência Contra a Mulher e passamos a participar das atividades do movimento pela democratização da comunicação.
A organização das mulheres em torno do tema levou à aprovação, na II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, de um eixo específico sobre comunicação e cultura democráticas. Foi então que, com o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, demos início à construção deste seminário nacional. Um ano depois da audiência pública realizada em São Paulo , em 23 de abril de 2008, centenas de mulheres, em 14 estados brasileiros, participaram de uma videoconferência, dando largada aos preparativos para o nosso grande encontro presencial. E a história continua!
ELIZA SAMUDIO
Em junho de 2010, a população brasileira se chocou ao tomar conhecimento de um suposto assassinato cometido por um dos maiores ídolos do futebol brasileiro, o goleiro Bruno, do Clube de Regatas Flamengo.
A vítima, a paranaense Eliza Samúdio, era namorada do então jogador do clube de maior torcida no futebol brasileiro, e, segundo depoimentos constantes do inquérito, vinha sofrendo inúmeras ameaças do jogador e seus funcionários, por cobrar dele o que lhe era direito garantido, a pensão para seu filho, fruto da relação com o então goleiro do clube carioca.
Sem dúvida nenhuma, a violência supostamente sofrida por Eliza Samúdio, foi um dos pontos cruciais para a indignação que tomou conta das ruas no país afora. O goleiro Bruno, que era ídolo, se tornou um monstro para o povo brasileiro, tão carente de ídolos. Além disso, praticar um crime com requintes de crueldade, com uma mulher que lutava por seus direitos, é ainda mais chocante, pois, em pleno século XXI, ainda vemos acontecer atrocidades como essa.
Há quem diga que o goleiro Bruno, assim como toda a sua corja, não ficará muito tempo preso. Cabe à população, cobrar da justiça, justiça para Eliza Samúdio, que sofreu em defesa de um futuro melhor para seu filho.
O tapa na cara de Helena Negra de “Viver a Vida” ocorrido na Semana da Consciência Negra, soou como um escândalo e uma provação para muitos homens e mulheres negras. Inúmeras cartas, mensagens, comentários tem circulado nas listas de mensagens, e-mails, blogs e twitters entre outros enviados em jornais e revistas, alem de contatos face a face onde são manifestos reações de indignações e repulsa àquela cena da telenovela “Viver a Vida”.
O potencial desta agressão - o tapa na cara recebido por uma Helena negra submetida a sua “culpa”, ajoelhada e humilhada, diante de uma mulher autoritária - ocorrido na Semana da Consciência Negra poderia ser comparada a uma cena de violência sexual contra uma jovem na véspera de do Yom kippur judaico ou um a uma cena de assédio pedófilo por um padre na Semana Santa Criança. Mas como não existe respeito à identidade negra, aos seus símbolos, nem a sua cidadania, é banal que a TV Globo e sua teledramaturgia apresentem para o seu público – negros e brancos, pobres e uma classe média culturalmente indigente – uma violência simbólica desta magnitude com um cinismo assombroso.
“A Helena negra é culpada por ter abortado, por ter casado com um homem branco e por não ter “cuidado” devidamente da enteada, numa relação que muito nos lembra mucama e sinhazinha” (Luciana Brito. Mestre em Historia. UNICAMP – Movimento Negro Unificado – Bahia).
Mais irônico ainda foi a TV Globo ter acabado de receber um premio internacional por uma novela que de cera forma celebra a diversidade, porém não da nossa própria gente, mas de uma cultura estrangeira. A telenovela “Caminho das Índias” recebeu o Premio Emmy como melhor telenovela do ano de 2009.
belezasnegras.blogspot.com
MUITO BOM ESSE TEXTO, POIS MOSTRA A VERDADEIRA REALIDADE DAS MULHERES NEGRAS. E É NESSE SENTIDO QUE BUSCO EM MINHA MEMÓRIA A CITAÇÃO DE GILBERTO FREYRE QUE DIZ ASSIM "O PROBLEMA É QUE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA, EMBORA TENHA SIDO FATO NOTÁVEL NA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO BRASILEIRA, FOI MUITO INCOMPLETA..."
ResponderExcluirOBS:A REFLEXÃO FICARÁ A CARGO DE CADA UM!
NORMA 2008.1
No início achei interessante, uma protagonista negra na telenovela com uma vida bem suscedida e famosa nacionalmente, mas apartir desta cena "o tapa na cara de Helena", já começei pensar diferente.Com qual finalidade o autor fez esta cena? Até hoje ainda não achei resposta.
ResponderExcluirSei que muitos acharam repugnante esta cena, e nos faz lembrar que, por mais que o mundo tenha tido seus avanços em todos os níveis, o negro ainda é rebaixado e até mesmo desvalorizado. Não precisamos disso, pois neste mundo de meu Deus, somos todos iguais.
Queila 2008.1
Em tempos Atuais, comumente ouvimos a frase "lugar de mulher é na cozinha", no entanto em nossa sociedade a mulher vem adquirindo cada vez mais espaços. LUTAMOS PELO NOSSO DIREITO DE VOTAR, POR NOSSA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, PELO NOSSO ESPAÇO NO MERCADO DE TRABALHO, Entre outras coisas. Sinto que a cada dia abrimos novos caminhos, quebramos preconceitos, tabus, que nos tornavam submissas e inferiores aos homens.
ResponderExcluirBastante pertinente NA TELA sobre Eliza Samudio, pois infelizmente na nossa sociedade vários crimes como o dela ocorrem. Como este foi parar na mídia, então, estão fazendo justiça.A sociedade precisa lutar para que os outros casos também tenham soluções,pois esses criminosos não podem ficar impunes... (Lélia Magna)
ResponderExcluirA violência contra mulher está virando algo natural. Utilizar o blog para relembrar esses fatos que por vez ficam esquecidos é de grande importância. (Camila Vaz, 2008.1)
ResponderExcluirO texto, Articulação mulher e mídia, nos trás valiosas informações sobre as lutas do movimento feminista a respeito da valorização das mulheres nas mídias, pois cotidianamento nos deparamos com diversas cenas que nos são transmitidas por meio de diversos canais de televisão em que as mulheres nos são apresentadas como meros objetos sexuais, estando também em diversas situações de subserviência. A articulação dessa temática nos 16 dias de ativismo é muito importante, pois é uma forma de possibilitar uma maior visibilidade desse tema, pouco evidenciado na sociedade.
ResponderExcluirTiago P. Vlas Boas
Esta reportagem nos mostra que a onda de violência contra a mulher parece não ter mais fim, cada dia que passa só se vê casos como este da Eliza Samudo que foi desaparecida do Nada. Sem falar de outras tantas Elizas que desaparecem sem deixar rastro.Uma reportagem como esta deixa a sociedade chocada.(Davina)
ResponderExcluirtecendo historia
2008.1 vespertino
Realmente é assombroso e indiginador para nós mulheres presenciar um crime tão brutal como a morte de Eliza Samúdio em pleno século xxi.Isso prova que a mulher ainda continua sendo vitima em alguns casos.(Joana D’Arc.2008.1 vespertino)
ResponderExcluirQuando pensamos que aconteceu de tudo nesse mundo, eis que aparece uma barbaridade dessas, o assassinato de Eliza Samudio foi mesmo algo muito brutal e nós como cidadão devemos estar sempre procurando a paz dentro de nós mesmos para tentar fazer um mundo melhor.
ResponderExcluir(Sheylla Nunes)
Ivonete,
ResponderExcluirO texto sobre Eliza Samudio é um dos grandes e violentos casos contra a mulher, pois ela ao mesmo tempo que é vista como geradora de prazeres é também vista como símbolo de ódio e repugnancia.Infelismente, isso acontece entre os seres humanos, porém é preciso parar e refletir muito sobre isso, pois, nem a mulher nem outro ser merece isso!
2008.1, vespertino
Infelismente, ainda hoje presenciamos senas de brutalidade contra as mulheres como foi o caso da morte cruel de Eliza Samudio.em pleno século XXI as mulheres ainda são vítimas de tamanha violência.Até quando???
ResponderExcluirValeu pela reportagem!!
Regiane,2008.1
o caso "Elisa Samudio", virou uma novela, a mídia tendenciosa e sensacionalista, parece que nao tem outro assunto,tomara que esta novela tenha um final feliz, quem sabe a Eliza nao está viva?
ResponderExcluircamila neiva de oliveira
É bem interessante que a imagem da mulher vire objeto de reflexão artística. Acredito que a visão de BOtero pode ser associado a mulher brasileira.Como seus quadros foge completamente de uma síndrome do esteriótipo de beleza estampado na tv, onde todos estão muito iguais, a mulher brasileira também é muito variada, não cabe num estereótipo.
ResponderExcluiro texto Bonita por Natureza faz nos reportar a discussão hoje em sala de aula do texto Sociedade Liquida, a qual as pessoas devam ser elas mesmas, mas que dentro da sociedade líquida tudo acontece de forma rápida: empregos, casamentos, etc.As pessoas precisam valorizar o outro para que assim, haja um bom convívio. Lelia Magna
ResponderExcluirmuito interessante o papel da mulher negra na mídia. pois, mostra como ela vêm quebrando esse tabu de preconceitos raciais, rompendo espaços e deixando claro que essas mulheres podem alcançar seu lugar de destaque independente de sua cor.
ResponderExcluirLegal a reportagem de Thais Araújo, a mulher saindo da cozinha é motivo de comemoração. Entretanto a população não pode ser ingênua ao ponto de achar que o racismo está acabando devido a uma ou outra mulher negra como protagonista. Este espaço deve ser ampliado, pq tantas mulheres brancas ainda são protagonistas, e somente algumas negras são?
ResponderExcluirA postagem sobre Taís Araújo foi muito bem colocada, pois ela conseguiu se inserir em um mundo completamente fechado para a diversidade e que se tornou obrigado por lei, a contratar atrizes e atores negros. Taís foi pioneira conseguindo o papel de protagonista, pois os negros só eram e ainda continuam sendo colocados em situações de subserviência nas telas.
ResponderExcluirTiago P. Vilas Boas
2008.1, Vesp. 6º Sem. Luciene Soares Oliveira, disse:
ResponderExcluirO texto Bonita por natureza, trata de um tema bastante polêmico. Acho muito interessante essa abordagem e esse texto nos leva a refletir sobre o conceito de beleza. Algo bastante transitório, uma vez que muda de acordo com as evuluções da época, e o que é mais claro, é que infelizmente, nós não sabemos a cada dia o que vamos eleger como beleza no dia seguinte. Ainda bem que a beleza está nos olhos de quem a vê e as mulheres, para nossa felicidade, tem cada uma, a beleza que lhe é peculiar, de acordo com o olhar e o ponto de vista que se lançe sobre ela! Todas são belas! E não precisam fazer parte do espetáculo que a sociedade moderna lhes impõe.
Percebe - se no texto "mulheres na pintura brasileira" a dificuldade que as mulheres tiveram para se sobressair no meio da arte, onde naquela época no século XIX só a pintura dos homens eram as melhores, mas Josefa de Obidos fez toda a diferença, mesmo sofrendo muitos preconceitos, nós mulheres nunca devemos nos sentir inferiores a nenhum homem, pois nós somos tão capazes quanto eles.
ResponderExcluirJoana D'arc 2008.1 Vespertino